18.3.11

“Às vezes parece que estamos vagando sem objetivo por uma cidade. Caminhamos pela rua, dobramos ao acaso em outra rua, paramos para admirar a cornija de um edifício, nos abaixamos para observar uma mancha de piche no asfalto que nos faz lembrar certos quadros que admiramos, olhamos para os rostos das pessoas que passam na rua, tentando imaginar a vida que carregam dentro delas, entramos num restaurante barato para almoçar, saímos e continuamos (...) talvez cantando para nós mesmos ao caminhar, ou talvez assobiando, ou talvez tentando nos lembrar de algo que esquecemos. Às vezes parece que não estamos indo a lugar algum enquanto caminhamos pela cidade, que estamos procurando um modo de passar o tempo, e que apenas o nosso cansaço nos dirá onde e quando devemos parar. Mas, assim como um passo leva inevitavelmente a outro, cada pensamento inevitavelmente também decorre do pensamento anterior, e no caso de um pensamento engendrar mais de um pensamento isolado (digamos, dois ou três pensamentos, equivalentes um ao outro em todas as suas conseqüências), será necessário não apenas seguir o pensamento até sua conclusão, como também remontar à posição original daquele pensamento para acompanhar o segundo pensamento até sua conclusão, e depois o terceiro pensamento e assim por diante, e dessa forma, se quisermos tentar criar uma imagem mental desse processo, uma rede de caminhos começa a se delinear, como na imagem da corrente sanguínea humana (coração, artérias, veias, capilares), ou como na imagem de um mapa (das ruas de uma cidade, por exemplo, de preferência uma cidade grande, ou mesmo de estradas, como nos mapas de postos de gasolina que se estendem, bifurcam e meneiam através de um continente), de modo que o que realmente estamos fazendo ao caminhar pela cidade é pensando, e pensando de tal forma que nossos pensamentos compõem uma jornada, e essa jornada não é mais nem menos que os passos que demos, de modo que, no fim, podemos dizer com segurança que estivemos numa jornada, e mesmo que não tenhamos saído do quarto foi uma jornada, e podemos dizer com segurança que estivemos em algum lugar, mesmo que não saibamos onde fica”

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