15.7.10

Meu filme não é nem uma denúncia nem um sermão. É uma história contada por imagens e eu desejo que se possa ver não o nascimento de um sentimento enganador, mas o modo pelo qual podemos nos enganar nos sentimentos. Pois, repito, nós utilizamos uma moral envelhecida, mitos caducos, velhas convenções. E isso de plena consciência. Por que nós respeitamos uma tal moral?

A conclusão à qual meus personagens chegam não é a anarquia moral. Eles chegam, na verdade, a uma espécie de piedade recíproca. Isso também é velho, vocês me dirão. Mas o que nos resta se isso?

Por exemplo, o que vocês crêem que seja esse erotismo que invadiu a literatura e o espetáculo? É um sintoma, o mais fácil de perceber talvez, da doença que afeta os sentimentos.

Nós não seríamos eróticos, ou seja, doentes de Eros, se Eros fosse uma boa saúde. E, dizendo boa saúde, quero dizer simples, adequada à medida e à condição do homem.

Há então uma doença. E como acontece sempre quando há uma doença, o homem reage. Mas ele reage mal e fica infeliz por conta disso.

Em A Aventura, a catástrofe é uma impulsão erótica desse gênero: barata, inútil, infeliz. E não basta saber que é assim. Pois o herói (que palavra ridícula!) de meu filme percebe inteiramente da natureza grosseira da impulsão erótica que o domina, de sua inutilidade. Mas isso não basta.

Eis um outro mito que cai, essa ilusão de que basta SE CONHECER, analisar-se minuciosamente nas dobras mais recônditas da alma.

Não, isso não basta. A cada dia se vive "A Aventura", seja uma aventura sentimental, moral ou ideológica.

Mas, se nós sabemos que as velhas tabas da lei não oferecem mais que um verbo por demais decifrado, por que permanecemos fiéis a essas tabas? Eis uma obstinação que me parece tristemente comovente.

O homem, que não tem medo do desconhecido científico, tem medo do desconhecido moral”.

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