22.6.11

"(...) vc estava em movimento, vc estava deitada naquele palco, vc estava completa naquela foto em que eu via apenas parte do seu rosto, e então veio a sua voz, anunciando noites e tardes de encontros, noites e tardes para ouvir in rainbows, amnesiac, noites & tardes em que reencontramos nossos heróis, ian curtis foi o primeiro, dylan se aproximou de thom yorke até que chegássemos a daido, mr. daido moryiama (o homem das sombras e vestígios), eu sempre estive nas sombras, sempre estive no traço impreciso que não se identifica, na anotação incompleta e na letra que não se reconhece, vc sempre esteve no exato oposto: na luz excessiva que permite a suavidade, na precisão científica que permitia a angústia, no traço autêntico que eu nunca poderei alcançar - a sua dor é única, real, a minha se fragmenta tanto que ao se tornar múltipla permanece leve e narrativa, eu caminho como forma de reconhecer o movimento, vc sim está no verdadeiro fluxo, vc sim está naquela loja de discos com um cigarro aceso esperando pelo vinil de nara, vc sim está no leste - eu nunca estive - eu estava com os olhos baixos (...) entre esses extremos, entre a impossibilidade e o concreto, entre o momento em que eu baixei os olhos e vc acendeu o cigarro, o momento mais mágico, a sintonia mais visceral.. pois de tão rápido nada se percebe, uma intuição devastadora, uma sincronicidade anterior, um reencontro de séculos (...) e vc se aproximou sob a mesma intensidade, a mesma intuição que um dia me permitiu subir os olhos e a ver de costas - quando nossos rostos não se encontram, quando o seu grito é minha impermanência, eu posso dizer que sim, aceito essa aproximação, essa certeza de que vc está aqui, aqui dentro, quando dois se tornaram um, e nada mais precisa ser dito - o olhar já não permite o desvio."

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