10.1.10

"A solidão desola-me, a companhia oprime-me. A presença de outra pessoa descaminha-me os pensamentos; sonho a sua presença com uma distracção especial, que toda a minha atenção analítica não consegue definir."


além da cruel constatação de que somos todos sozinhos, sendo a morte da consciência o maior exemplo disto, não acho assim tão plausível a tal da solidão plena e independente. em muitos casos, creio que há falsas personas, uma necessidade de mostrar-se independente perante o mundo. de pessoas que criticam os solitários angustiados, sendo que muitos dos que criticam também são gêmeos dos solitários angustiados. a diferença é que eles escolheram fazer uso do disfarce. ou da indiferença de si mesmos.

e mesmo com o entendimento do fato de que ninguém, ou nenhuma espécie de amante, preenche o relutante vazio (a ilusão dele ser preenchido é dizimado na fúria da adolescência), há angústia sim, em cotidiano sem romance, e sem companhia. sem pele alheia. e sem intimidade.

o maior exemplo vivo, na minha memória, foi a gradual perda da lucidez do meu avô, após a morte da minha avó. diferente dos que escrevem em blog ou que usam outros meios como forma de disfarce da angústia, ou da falta de alguém, meu avô clamava em alto e bom tom a ausência dela. pedia para que de algum modo ela o ouvisse. e todos da família ouviam e ficavam impotentes. sendo eu um deles. e ele acabou falecendo 4 anos depois, no mesmo mês do ano que ela havia falecido, e quase no mesmo dia.

(e desta vez, não fui cauteloso ao me expor. deixei bem nítido o que eu queria dizer. para os poucos que conhecem este blog, ou para os poucos que digitam o meu nome no google e o descobrem. ou para mim mesmo apenas.)

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